Logo na primeira viagem de férias após se recuperar duma infeção generalizada no ano passado, Ângelo Rodrigues já teve problemas a enfrentar. Neste fim de semana o ator teve que passar os dias trancado no hostel onde está hospedado devido a uma tempestade de neve.
O artista encontra-se numa montanha na reserva da biosfera de Dana, a 197 quilómetros a sul da capital da Jordânia, Amã, e a 410 quilómetros a sul de Jerusalém. No entanto, não são só pontos negativos que podem ser encontrados desta situação.
Esta e outras coisas que a figura pública está a lidar tem favorecido a criatividade da estrela da SIC. À cada nova experiência no estrangeiro, Ângelo Rodrigues dedica crónicas que está a publicar quase que diariamente nas redes sociais.
Com textos leves, interessantes e quase poéticos, o ator relata aspetos da sua vivência social na Jordânia que vão desde a tempestade que está a ocorrer no sítio até a um curioso episódio de flerte que teve com uma jordaniana.
O artista também propôs-se ao desafio de subir ao longo da escadaria do anfiteatro romano e, ao chegar no fim, tirou uma foto bem parecida com a clássica imagem do Rocky nas escadarias do Museu de Arte da Philadelphia.
Enfim, são muitas as experiências do intérprete do Bruno Garcia na telenovela «Golpe de Sorte», da estação de Paço d’Arcos. A recordar que o aficcionado por viagens já visitou algumas das maiores maravilhas do mundo como a Muralha da China e Machu Picchu, no Peru.
Confere a seguir um trecho do mais recente relato do Ângelo Rodrigues e a fotografia que o acompanhou nas redes sociais.
«Pela janela vejo que a neve aconchegou a paisagem como se Pablo Escobar largasse todo o seu ganha pão sobre estas montanhas. Não há galo que me desperte, apenas duas refugiadas sírias que dormiram ao meu lado e preparam o pequeno almoço para os hóspedes às 7 da manhã. O nevoeiro engoliu a montanha e a estrada que me leva de volta à civilização está coberta de gelo.
Decido arriscar e obrigo o meu carro a subir a montanha branca. Em vão. A polícia cortou a estrada para evitar alguma calamidade. A pior notícia surge do nada: vou ter de ficar no hostel mais um dia até a tempestade se cansar. Tento gerir a frustração de não conseguir ir para Petra e a sensação de, pela primeira vez, ficar preso numa montanha.
Recolho ao hostel e a desolação está estampada em cada rosto ocidental que vejo. Por aqui há um mexicano, um canadiano, dois gregos, dois holandeses, três francesas e três polacos. Nem a Benetton faria um catálogo melhor. A tormenta ganha tamanha dimensão que a própria polícia se esconde no hostel.
Acho de uma audácia incomparável uma montanha fazer-me isto. Uma montanha com idade para ter juízo. Ela mesma deveria ficar inibida de conduzir por 6 meses por colocar em perigo jovens turistas mochileiros.
Aguardo que os guardas baixem a guarda para lhes pedir algo. Digo que sou português e convido-os a fazer um retrato na neve. Puxo o meu ás de trunfo – ou, como aqui lhe chamo, a “carta @cristiano Ronaldo” – e eles aceitam. Ronaldo mostra que é goleador até a estreitar relações entre desconhecidos.
O dia é beijado pela incerteza de não saber se fico aqui para sempre. Tento valer este isolamento com um livro que me sossega o resto do dia. Estamos há 3 horas sem electricidade e a agitação deu agora lugar à consternação. Às 19h fazemos a última ceia e troco algumas palavras com os apóstolos. Tão diferentes como estupidamente iguais na nossa definição de liberdade.
O dia evapora-se num ápice e adormece extenuado na montanha. Amanhã espero o bom humor de uma montanha que só me tem atormentado os últimos dias. Petra, estou a chegar.»